sábado, 6 de março de 2010

Dom Helder: uma história de amor (parte III)

Dom Hélder Câmara tinha apenas 22 anos quando decidiu, em 1932, aceitar o convite e integrar o movimento Integralista, uma versão brasileira do Fascismo italiano. Foram cinco anos até perceber o real propósito do movimento e se afastar.

Apesar de reconhecer o erro, este período ficou marcado na biografia do religioso e foi usado com bastante força pelos seus críticos, principalmente durante a ditadura militar, quando a censura imposta proibia até mesmo de citar o nome Dom Hélder.

“Durou pouco tempo esta passagem pelo Integralismo e que hoje é motivo de muitas críticas. Muita gente que descobre nesta passagem motivos de recalques, não sabe como agradeço a Deus ter feito esta experiência. Lembro-me sempre de Santo Agostinho, que dava graças a Deus porque antes de descobrir a verdade ele atravessara uma série de erros, e tudo é fecundo. É bom que a gente erre, porque aprende a ter um pouco mais de paciência com os que erram”, disse em 1977, num encarte publicado em homenagem aos 25 anos do Episcopado.

O próprio Dom Hélder reconhece que sua passagem pelo movimento foi um erro cometido por um jovem, que ainda não tinha idéias sociais formadas. Na ocasião, ele ainda era um simples padre no Ceará, onde nasceu.

“Devo muito ao Seminário, mas por isso mesmo me sinto à vontade para dizer que, do ponto de vista social, realmente, saí pouco aparelhado. O aspecto social não era o forte dos meus mestres. Tanto assim que a nossa visão era a de que o mundo se dividiria, cada vez mais, entre direita e esquerda, entre capitalismo e comunismo. Então, quando surgiu a Ação Integralista Brasileira que era, de fato, o fascismo brasileiro, eu estava tão convicto de que o mundo realmente partiria para esse embate, para essa divisão, que consultei o meu Bispo, ao ser convidado para ingressar no movimento”, explicou.

Para o sociólogo Walter Praxedes, autor do livro Dom Hélder Câmara, o profeta da paz, a formação conservadora que recebeu no seminário dos padres lazaristas em Fortaleza foi extremamente conservadora. “Por isso ele sentiu-se atraído pelo pensamento militarista, em defesa de um estado centralizador e autoritário que estava na moda no final dos anos 20 e anos trinta, em virtude da chegada de Mussolini e Hitler ao poder na Itália e na Alemanha. Muitos jovens honestos e idealistas, como ele, acreditavam que a melhor maneira de combater o liberalismo capitalista e o comunismo e promover a justiça social era através de um estado totalitário e corporativista que defendesse os valores da Igreja católica”, afirmou.

INTEGRALISMO
O Integralismo foi uma corrente de pensamento político, que teve início na Europa, que pretendia aliar à moral religiosa ao nacionalismo. O movimento chegou ao Brasil em 1930 e teve uma enorme repercussão entre intelectuais e a classe média, pois pregava o combate ao comunismo.

Plínio Salgado foi o principal difusor das idéias do movimento que queria ainda integrar toda a população sob as idéias de um Estado forte, de uma sociedade hierarquizada e de um país nacionalista.

O Integralismo entrou em declínio quando Getúlio Vargas deu um golpe de estado em 1937 e acabou com as pretensões de Plínio Salgado em se tornar presidente do Brasil. Ainda em 1938, um grupo de integralistas ainda tentou invadir o Palácio da Guanabara, sede do Governo, para tentar derrubar Getúlio Vargas, sem sucesso. O movimento ficou conhecido como Levante Integralista e deixou um saldo de dezenas de mortos e presos.

Dom Hélder, inclusive, chegou a ser uma dessas pessoas perseguidas quando saiu do movimento. “Ele foi duramente perseguido e teve que ser escondido várias vezes pelos amigos para não sofrer atentados dos seus ex-correligionários, que chegavam a matar os dissidentes. Isso ajudou a formar a sua convicção pacífica e democrática, serena e favorável ao diálogo entre os diferentes que caracterizou a sua trajetória seguinte, marcada também pela defesa do engajamento dos católicos na busca de melhores condições de vida para as classes populares, de justiça e de paz em nosso país”, destacou Walter Praxedes.

Nenhum comentário:

Postar um comentário