sábado, 11 de agosto de 2012

Meu pai, minha vida...


A lembrança mais antiga que tenho do meu pai era ele sentado numa cadeira de balanço mexendo no seu rádio de ondas curtas e eu brincando no chão sozinho, enquanto minha mãe cuidava dos afazeres. Era noite e chovia e eu não conseguia entender nada do que tocava naquele rádio - eram rádios do mundo inteiro que ele ficava fascinado quando sintonizava uma frequência nova...

Meu pai é potiguar e minha mãe era paraibana. Meu pai é um homem muito simples, dedicado a família e muito religioso. Eu, sou o primogênito de cinco filhos de uma família genuinamente protestante.

Herdei o nome do meu pai, Paulo e muitas de suas características, mas era o mais difícil da família. Constantemente fugia para assistir televisão na casa do vizinho, porque era proibido pela igreja naquela época. Eu tinha medo quando meu pai ia me buscar, não porque me batia, coisa que ele nunca fez, mas pelo seu olhar de reprovação e do seu silêncio que durava dias. Isso machucava mais do que uma surra bem dada.

Hoje eu entendo muito bem o motivo daquele silêncio: a frustação de me ver cair sempre no mesmo erro. Eu me sentia péssimo por isso, pois ele não merecia, mas era muito orgulhoso para pedir perdão...

Sempre era a minha mãe, que se chamava Maria, quem intercedia por mim. Bastava poucas palavras e meu pai esquecia tudo e me trazia um presente no dia seguinte. Interessante isso, pois eu é quem deveria presentea-lo, mas isso são coisas de pai!

Meu pai não era de muita conversa e não tinha presença em muitas coisas importantes da minha vida, pois passava a maior parte de seu tempo trabalhando. Afinal ele tinha mesmo que cuidar de uma esposa e cinco filhos apenas com um salário mínimo, mesmo assim nunca passamos fome, nem ficamos sem teto, estudamos e nunca desrespeitamos nossos pais.

Quando fiz sete anos meus pais se afastaram da igreja e ficamos todos a favor dos ventos deste mundo, cada um por si, por mais de trinta anos. Um dia conseguimos passar o Fim de Ano todos juntos e, ao longo deste ano, retornamos à casa do Pai Nosso: eles para a igreja protestante e eu me encontrei com a igreja católica.

Após meu batismo crisma eu tive uma conversa franca com meu pai sobre a minha opção religiosa e para, minha surpresa, ele me disse: Relaxe meu filho, a Igreja Católica tem Deus. O importante é você estar feliz, mas procure nunca decepcionar Jesus, se o fizer não espere somente que sua Mãe Maria interfira por você...

(Crônicas de um sonhador - Paulo Deérre)

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